sábado, 26 de setembro de 2009

E QUE MULHER NÃO É MARIA?


Ouvindo “Maria Maria” de Milton Nascimento,me perguntando quem será essa tal, me veio à mente outra pergunta. E que mulher não é Maria?



As Marias se encontram todos os dias. Nos vagões do metro, nos taxis e nas escadarias dos prédios. Na padaria e na livraria, no trabalho e no cinema.
E diante do trabalho, da família e dos sonhos. E nas homenagens e nas delegacias elas se trombam e elas também tropeçam e se enfrentam nessa estranha mania de ter fé na vida.

Em tempos em que nunca se ouviu tanto em agressão contra a mulher, não que não houvesse antes, acontece que hoje, a impressão que fica é que quanto mais se luta contra, mais os casos aumentam.
Nunca ouvimos tanto em pedofilia, quanto mais se divulga um caso, outros dez surgem. São pequenas Marias de 7, 6, 5 anos aliciadas desde a tenra infância, descobrindo que ser mulher tem um preço suficientemente alto.

As Marias que ganham 30% menos no trabalho e que exercendo a mesma função, se sacrificam em nome do sustendo que agora, muitas vezes depende dela. As que largam a faculdade por esperar na barriga alguém que já a domina pelo amor, são elas as Helenas, Silvanas, Cristinas.

Disse Adélia Prado: “Mulher é desdobrável. Eu sou”.
Tendo na mente um turbilhão de coisas, amando uma multidão de pessoas e tentando desesperadamente esquecer mágoas e humilhações. Amando hoje, separando-se amanhã. Traindo hoje, beijando manhã. Sonhando hoje, caindo. Elas se divertem com o pouco, se alimentam do abraço e quando se deitam pensam se valeu a pena, pensam se não poderia ser melhor.

Ele passou no vestibular. Ela viajou pro exterior. Ele recebeu a promoção. Ele ontem, não dormiu com fome e ela penteou os cabelos.
Ela sabe que não está sozinha e ele também disse que amava.
Ele se casou no mês passado e ela estava lá. Ele mudou de emprego e ela está sonhando com um filho.
E pra onde essa gente toda iria se não fosse ela? A tal da Maria.
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida....
(Milton Nascimento)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

DOANDO BRINCADEIRA

(Abrindo um espaço no blog, que não é jornalístico, para divulgar uam campanha muito bacana, organizada por amigos da faculdade. Participe!)

A CAMPANHA

“Doe um brinquedo e ganhe vários sorrisos”. É com este slogan que os alunos do quarto semestre do curso de Publicidade e Propaganda do Isca Faculdades pretendem arrecadar a maior quantidade possível de brinquedos e doá-los às crianças carentes da cidade de Limeira.

A campanha “Fazer o bem sem olhar a quem” acontecerá dos dias 16 de setembro a 07 de outubro deste ano e pretende arrecadar, além de brinquedos novos e usados, alimentos de primeira necessidade. As entidades atendidas serão as filiadas ao Ceprosom. A expectativa é de dar assistência ao maior número de entidades possível.

Os idealizadores do projeto e alunos Rodrigo Fernandes e Paulo Roberto Pfister contam com a participação de todos os alunos. “Sonho que se sonha só é só um sonho, mas quando se sonha junto é realidade”, diz Pfister, citando Raul Seixas. A idéia surgiu em uma conversa entre os colegas de sala sobre os problemas que muitas crianças enfrentam na atualidade, sobre a divergência entre realidades sociais e então o desejo de ajudar se transformou em estratégias, reuniões e envolvimento geral para a realização do projeto. A orientação do projeto é feita pelo professor e coordenador do curso, Victor Kraide Corte Real.

Para Fernandes, todo esforço com o projeto valerá a pena quando chegar o dia da entrega dos brinquedos. “O trabalho está no começo, mas vai de vento em popa. Com a ajuda de todos fica mais fácil”.

A campanha contará com doações dos alunos Isca e do COC Acadêmico. Doe também!

domingo, 20 de setembro de 2009

ENTRE VER E NÃO VER


"Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber...
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer..."

Zé Ramanlho/ Admirável gado novo


Os olhos se abrem. Piscam em câmera lenta, depois o ritmo se torna mais frenético. Eles enxergam, olham, mas nem sempre vêm.
A capacidade de ver, não está naquilo que se olha, mas na percepção que se tem do que se olhou, ela é formada por muito mais que retina, ela é formada pela experiência que os olhos adquirem, olhando.

No livro “Um antropólogo em Marte”, o capítulo VER E NÃO VER trata exatamente disso. Conta a história de Virgil, homem de 45 anos operado de cataratas que possui nos dois olhos, ela o impossibilitaram de podiam notar enxergar a vida toda. Ao retirarem os curativos, médicos e familiares de Virgil: Ele podia ver, mas o que ele via?
A questão é que uma pessoa acostumada a reconhecer um cubo de um quadrado pelo tato, não podia reconhecê-los agora, apenas pela visão.
O tratamento continua muito tempo após a alta dos médicos, a vida também trata e a experiência é uma doutora paciente.

Saindo do campo físico, a questão é tão ampla quanto, porque nem sempre vemos aquilo que deveríamos. Se tem uma coisa que peço a Deus, é que Ele amplie minha visão para aquilo que não é visível, e também minha audição para aquilo que não foi dito e que eu sinta o cheiro de coisas escondidas à milhares de metros abaixo do solo da conveniência.

Outro dia participei de uma palestra onde a palestrante, questionada sobre a forma briga entre grandes emissoras de TV, disse que neste caso não havia inocente algum, e incentivou os alunos a observarem com desconfiança e não crer em tudo que é divulgado. Pois, não é uma freqüentadora da denominação cujo dono é também dono de uma das emissoras ( o primeiro dono é intencional, não errei não)saiu revoltadíssima questionando quem a tal da palestrante era pra falar daquele jeito?

Sim ver dói e dói muito. Quando ouvi a tal reclamando fiquei com vontade de ir até ela e falar: “ Ei, nem todo mundo tem que acreditar no que eles dizem, se você acredita o problemão é seu”, mas depois, acalmando, percebi que ela não tem culpa, que ninguém que agora está assistindo a tal da Rede acreditando que foi Deus quem mandou passarem aquelas novelas ridículas, tem culpa. Todos os interesses comerciais, financeiros de detentores de poder estão escondidos, eles sempre estão submersos em um alto teor de blá blá blá e as pessoas não podem ver a não ser pela experiência e pela vontade de fazer isso.

No livro Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago aborda uma cegueira diferente da convencional. Diferentemente dos cegos tradicionais que vêm tudo escuro, a epidemia transforma as pessoas em cegos que vêm um clarão, tudo é tão claro que não permite ver nada além.

“ Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem”. (pag. 310)

É isso que penso, que vejo quando vejo. Uma multidão que marcha para o nada olhando para luzes que mal sabem de onde e como são. Gente que tenta ajudar aos outros sem nem mesmo conhecer o caminho, que leva a sério tudo que é falado, que não questiona e não pergunta, que aceita tudo como ordem e a obedece até o fim.
Eu espero ardentemente me ver livre deste espírito de manada, e trazer comigo quem eu puder carregar.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

EM OUTRAS FREQUÊNCIAS



“... remar contra a corrente
Desafinado coro dos contentes”.

(Engenheiros do Hawai/ Pose)



Depois de literalmente andar dormindo e levar um baita tombo, chegando a rasgar minha calça e mancar a noite inteira, resolvi que era importante dar um tempo. Hoje resolvi verificar o que Dom Casmurro queria dizer, deixei que a Alanis cantasse “Perfect” em meu ouvido e convidei a revolta para sentar-se comigo. Então deixei que ela falasse e calmamente enxerguei a onda de pessimismo em que me coloquei, retratada em meus últimos posts.
Essa onda só não me leva graças ao vídeo acima, que conheci através de um blog muito bacana, o Solomon.

Sem o desespero e correria habituais, notei que sim, que vale a pena. Olhando meus livros, amigos e as musicas que ando ouvindo reparei que nunca serei um “sexy simbol”, devo alertar que vocês nunca me verão na capa de uma revista dando dicas para manter a pele jovem ou indicando uma dieta nova. E que, se é isso que a realidade da indústria procura, serei obrigada a arregaçar as mangas e criar minha própria realidade, construindo com as pessoas que amo, um lugar habitável para pessoas imperfeitas.

Enquanto o padrão aparece e recita para as câmeras textos lindamente decorados, escritos por pessoas que pensam em mais que gloss, eu talvez esteja bem longe, fazendo nada demais, como ouvir líderes comunitários ou encher pratos com sopa em algum bairro onde o padrão não entra, nem mesmo para espiar.

Talvez eu escreva livros infantis, que digam às crianças que princesas e camponesas são iguais e que ambas poder ser muito felizes, mas nunca para sempre, e que os animais não precisam falar para expressar aquilo que sentem. E quem sabe assim, com uma nova consciência, algo novo seja feito por elas.

“Apesar das minhas fragilidades, avanço”, como Lya Luft. Apesar da superficialidade do sistema, da TV que entretém da forma mais burra possível, Apesar do modelo pesado que nos é jogado na cara, apesar de me sentir uma peça quadrada em uma forma redonda, eu tento.
Ainda como Lya Luft afirmo:

“Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido...
... Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.”


Eu continuo porque ainda estarei quando a gravidade violentar os corpos, quando as novas tecnologias forem ultrapassadas por outras ainda mais novas, e sei que verei o conteúdo vencer o externo. Ainda que num pequeno espaço em um mundo particular, eu estarei lá para perguntar: “What you gonna do with all that junk?”

As exceções existem e ainda que consideradas inconvenientes e irreais, ainda que discordem delas, ignore ou humilhe-as ..
É preciso saber que elas estarão lá.

E esse vídeo vai para aqueles que conseguem vibrar em outras frequências, só pra eles.

sábado, 5 de setembro de 2009

Na estante, comigo.

Eu não quero esquecer
Nem mesmo por um momento
Do medo, do sonho e do vento

Não me deixe viver segundo que não deva
Dizer qualquer coisa que não seja
O gesto, o teto e o beijo.
Eu não quero esquecer o submerso

O que atravessou meu concreto
Carregou em meu verso, um som
Quero dizer que já não quero mais ir
A fuga já não me interessa

Quero deitar aqui, sem parte ou pressa
Olhar o que fica
O que vai daqui em diante
Amar o instante
Passear no escondido

E o tal do sorriso
Brotou sem aviso, deixou um pedido
Aqui, na estante, comigo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

ESPELHO MEU, QUAL ÚLTIMO LIVRO QUE VOCÊ LEU?

É difícil admitir, mas eu descobri que não conta.

Parei de escrever as matérias que deveria para a faculdade por um minuto, deixei o trabalho de lado para pensar um pouco, mas amargamente digo que nada disso vale.
Que livro você está lendo?
Em que tem pensado?
Quais as pessoas com as quais você procura estar, trocar conhecimento, interagir?
Você viu aquele filme? Leu aquele artigo?
Nada disso tem relevância.

Meus dedos mal conseguem digitar de tanto cansaço, mais erro as teclas que acerto. Dormindo tarde e acordando muito cedo.
Dizendo sim aos compromissos.
Crescendo, como eles dizem.
Mas agora eu entendo que não faz diferença.
É tão triste aceitar a condição a qual estamos todos expostos, acreditar que não é fato é bom, mas não muda o fato em si.

O que faz a diferença é como você se equilibra em um salto alto. A forma que usa a maquiagem ou o manequim 36 em que você se encaixa.
O ser atraente, sexy e perfeitamente plástica, tem toda a relevância que pode ter uma profissional competente.
A forma como se senta e deixa que eles vejam quão sedutora uma mulher pode ser, as roupas que sempre mostram um pouco mais, o corpo quase como o da revista e o cabelo do comercial de xampu.
Sim, tudo isso conta.

A sensação da aceitação dessas condições é sufocante, me fez perder o sono. A revolta chega a me asfixiar. E mesmo que este post seja talvez, o mais pessimista de todos, não vou ignorá-lo, porque quero mostrar que sou boa aluna e que aprendi muito bem o conceito de profissional do século.
Aprendi exatamente tudo o que os livros e mestres não me ensinam, entendi a lição passada pela experiência e pelo que vejo.

E o que vejo é que ninguém se interessa pelo que vai em sua cabeça, suas ideologias e sonhos, suas opiniões e a luta que é ser mulher em uma sociedade ironicamente machista, o que realmente vale é um sorriso misterioso e um belo rebolado.

Vende-se livros da Clarice, do Machado e do Chico, apostilas e amigos questionadores. Também aceito trocar por hidratantes, batom e qualquer um que entenda de moda. Acho que já ta bom!

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.”


... Marina Colasanti...