segunda-feira, 21 de junho de 2010

ÀS MOSCAS II


E as moscas azuis continuam rondando.
Com seu zunido infernal anuviando meu cérebro
Tentando destruir a alegria de uma noite de paz.
Eu não sei o que elas querem...

Talvez atormentar, chantagear, despedaçar um coração já cozido.
Que depois de tanto ter temido, soluçado e esperneado,
Começa a sentir a leveza de dias suaves.

Esses animais peçonhentos
Tão sem pensamento, se alimentam do tormento de quem não se interessa por eles.
De quem vive além do quadro azul e escapou do falso mel a que se submetem.

Voem pra longe bichos imundos!
Vão atormentar o inferno
Voar sobre os seus altares mal cheirosos,
Tão brancos por fora, recheados de enxofre.

Porque em mim que já voei esse vôo,
vocês não pousam não.
Eu prefiro olhar os pássaros e bater as asas em direção ao norte.


“São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, "infértebrados".

É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.

Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.”

...Insetos interiores/ TM...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

FORA DO TRILHO

Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.
...Manoel de Barros...


Sabe quando muita gente te procura pra dizer que você errou? Quando te olham estranho, como olhariam pra alguém em um manicômio? Ou quando ignoram a sua presença evitando qualquer palavra brusca temendo despertar algo ruim que segundo eles, vive em você?
Eu sei.

É estranho se sentir um peixe fora d’água ou uma borboleta em um aquário como na musica dos Engenheiros do Hawaii né?
É!

Mas ainda sim vale a pena.
Quando se pula o muro do comodismo a queda sempre machuca. Mas o tempo passa, a ferida sara e a alegria de uma realidade nova rompe as paredes do seu mundinho antes vulgar.

Aí então, quando se respira livremente e sente o calor de ser aquilo que se quer, a gente pensa: “demorei demais pra chegar aqui”.

Sim, eu passei por uns bocados ruins por ter coragem de fazer o que a maioria não tem.
Por fugir do altar. Por dizer não pra aquela estupidez toda que ninguém suporta mais. Por erguer o som, rasgar a saia, cortar o cabelo e atirar fora aquele jeito estranho. Por bisbilhotar o que não devia.
But I’ll survive e “se eu soubesse antes o que sei agora erraria tudo exatamente igual”. (Karmas & DNA)

Ontem uma alegria incomum perfurou meu peito, subiu pela garganta e pulou pra fora da boca. Então gritei, “oh Lord! Que bom que sempre fui meio rebelde”

“A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.”

Manoel de Barros





terça-feira, 1 de junho de 2010

LÁ FORA...

“Abra o vidro do seu coração, o amor gera atitudes
Comece a agir, chega de falar, só com palavras não se pode mudar”
...Oficina G3/ Indiferença...


Foram chegando aos poucos e se enfileirando naturalmente por trás do portão de grades. As senhas distribuídas e o tempo determinado. Cada pessoa teria alguns minutos para escolher o que precisasse. As crianças gritavam eufóricas com a possibilidade de peças novas, ainda que em estado questionável.

A campanha do agasalho gera uma dose de tumulto todos os anos entre a população que precisa da caridade alheia para aquecer-se no inverno. Muitas mulheres, homens e crianças vêm nela a única oportunidade de esquentar mais que o coração na estação mais fria do ano.

Olhando a cena pela câmera, sentada confortavelmente em minha cadeira giratória, enquanto falava com minha amiga de trabalho, senti vergonha. Eu usava coisas que considerava velhas após três meses. Havia enjoado das cores e tudo me parecia muito comum.

Então é isso, pensei, eu me vendi.
Me deixei barganhar por um modelo de sociedade altamente consumista, onde tudo perece rápido, onde o amor não evolui no mesmo passo que a moda. Essa tendência do consumo exagerado que esvazia a mente e nos afasta de valores realmente importantes e o individualismo que não nos deixa ver além.

A verdade é que tentamos colocar coisas no lugar de pessoas. Aromas perfumados pra esconder o cheiro de esgoto de nossos corações maltrapilhos e muita, muita cor pra esconder o desespero e o cansaço que nossos pequenos problemas e miseráveis vontades nos proporcionam.

Então a pergunta é onde estamos quando tragédias assolam países, cidades ou mesmo o nosso vizinho? O que estamos fazendo ou em que estamos pensando quando pedem, silenciosamente, ajuda, e nós não ouvimos?

Estamos confortáveis em móveis macios, visitando web sites de noticias ou de entretenimento, comendo sem ao menos olhar para o alimento.
Enquanto isso, lá fora uma multidão se enfileira, atrás das grades do desumano e egoísmo.

Então:
Qual é? a atitude que cê toma?
Qual é? porque a cerveja eu já sei!
Qual é? a atitude que cê toma?
Qual é? porque a cerveja eu já sei!
...TM / Comercial...