terça-feira, 28 de abril de 2009

PROCURA-SE TUDO



Eu to procurando um jeito de escrever que desagrade aos lingüistas tradicionais;
Procurando um jeito de brigar com a reforma ortográfica.
Eu to descobrindo uma forma de me vestir além do que madame Chanel disse que era bonito, e alguma coisa que não me faça parecer um outdoor que anda ou uma lata de refrigerante.
Estou tentando ler coisas que meu pai não gostaria que eu lesse, tentando falar coisas que talvez ele não gostasse de ouvir.
Olhando pra o que ninguém quis ver, observando o que me enoja.

Eu quero ouvir músicas que não tocam nas rádios, conhecer a voz de caras que a maioria não conhece, sei lá o porquê..talvez porque eles usam mais a cabeça que o corpo, porque eles pensam demais e requebram de menos ou até porque talvez eles cantem sobre coisas que incomodam.

Eu procuro amigos, mas não de qualquer tipo. Do tipo que não se importe com o que eu visto ou leio, do que me ame e só. E que me deixe amar também e só. Mesmo estando tudo diferente e de ponta cabeça, mesmo não havendo razão para amar, na verdade, nunca há.

Eu quero um trabalho onde eu possa ganhar dinheiro, mas que não me consuma inteira e que o dinheiro cheire bem, aquele cheiro de coisa bem-vinda e não de coisa roubada ou estragada pelo suor exagerado, pela palavra mal dita ou mal ouvida.
Eu procuro alguém que não me entenda e que nem queira, eu mesma desisti disso e nem preciso viu.

Eu gostaria de comer além do que os states colocaram aqui, conhecer a cultura além da que eles enxertaram.
Pisar em terras que me proibiram de pisar... Saber do perigo do qual me alertaram.

Eu to querendo não me parecer com a Barbie, tentando fazer do meu corpo, do meu rosto e cabelo algo apenas meu, encantamento sim, mas quero alguma coisa que uma boneca não reproduza e uma foto de revista não capture.
Nada digno de ser imitado, meu e só.

Eu to chamando por um Deus diferente daquele do qual me contaram coisas e daqueles que prenderam em imagens e me disseram “ajoelhe-se”. Um Deus que me ouça falar coisas que o deus deles não ouviria, um que me ame apenas e que seja meu. Não aquele dos púlpitos, mas, Aquele lá de casa, lá da rua e daqui de dentro.

Procuro ver com meus olhos esse mundo e esquecer tudo que já vi com olhos alheios, tudo que falei e que não era meu. Eu tenho fome das minhas palavras.

Procura-se uma vida que seja minha apenas, aquém da massa, aquém do todo e todos. Considerando que eu fazendo parte do todo, não sou esse. Posso então me aventurar a ser apenas eu e assim me ouvir, me ver e sentir, aquém do resto ou de você.
Procuro desculpar-me se isso ofende, sei que isso é muito difícil, me confunde.
Procuro não seguir, mas procuro e só.
Até quando? Sei lá.

PENA



O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Um sorriso por ingresso
Falta assunto, falta acesso
Talento traduzido em cédula
E a cédula tronco é a cédula mãe solteira

O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Acordes em oferta, cordel em promoção
A Prosa presa em papel de bala
Música rara em liquidação

E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A Luz acesa
Lá se dorme um Sol em mim menor

Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior
O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
A porcentagem e o verso rifa, tarifa e refrão
Talento provado em papel moeda
Poesia metamorfoseada em cifrão

O palhaço pena quando cai o panoE o pano cai
Meu museu em obras, obras em leilão
Atalhos, retalhos, sobras
A matemática da arte em papel de pão

E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presaA luz acesa
Já se abre um sol em mim maior

Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior

O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli e Maíra Viana

E aqui, assim, fica o meu protesto
meu pensamento e meu gesto.
Nas palavras que são de outro eu me encontro
e as faço minhas, assim e ponto.

sábado, 25 de abril de 2009

DIREITO DE RESPOSTA DE UMA IRACEMAPOLENSE



“Não! Já não é a mesma praça.
Não são os mesmos bancos, não vejo jardim.
E flores? Flores, não há mais".

Me sentei na praça pra esperar uma amiga, não na minha praça ou da minha pequena Iracemápolis, mas, em outra.
Olhei as pessoas e o chão e tudo era tão sujo. Senti nojo por um instante. Ah ! esse meu vício de observar... quase sempre me causa nojo.
Eu poderia simplesmente sentar e esperar, talvez reclamar por ter que fazer um trabalho em plena sexta à tarde, reclamar porque ia gastar muito dinheiro com ele, ou porque tive que sair da minha cidadezinha pra fazer o tal do trabalho, mas, não consigo, eu quero ver aquilo que é tão novo pra mim, queria entender.
Eu mal consigo piscar, sou curiosa demais, é muito diferente do que eu entendo por praça.
Outras pessoas param pra descansar, muitas outras estão ali apenas esperando o próximo ônibus. Um homem dorme no banco ao lado do meu e as pessoas sentam-se ao seu redor. Tive a impressão de que elas não o viam.
Pedintes, muitos.
Sujeira, demais.
A diferença me salta aos olhos.
Outro dia, sai com a galera da faculdade, nós fomos pra Capitar conhecer a TV Cultura.
Como de costume eles não podiam deixar de “zuar” a Iracemapolense aqui e nem o meu sotaque é claro.
Comentários do tipo “ Hey, aquilo ali é um prédio” ou “ olha, ta vendo, aquilo é um semáforo”. Sim, são comentários preconceituosos, o fato de eu ser iracemapolense não significa que eu seja uma ignorante ou uma pessoa sem cultura alguma.
Então decidi postar a minha resposta, eu tenho esse direito!
Mas antes, quero dizer aos meus queridos amigos que entendo vocês e que não há nenhum ressentimento também, vocês só falam de algo que não conhecem, então me permitam....ok?!
Comecei este post lembrando um trecho da música composta por Ronnie Von, uma musica bonita que canta a saudade de um certo alguém num banco de praça e fala como tudo está igual, as flores e o jardim. Isso já não acontece mais, algumas cidades queridos amigos, só conhecem a praça que citei acima.
Mas, não quero falar mais delas, quero falar da minha, daquela que conheço desde que era pequena e que se conserva como sempre foi.
Outro dia de manhã fui ao centro da minha cidade por motivos de trabalho, precisei cruzar a praça, os velhinhos, já aposentados, se reuniam pra conversar, “ Trocar um minuto de prosa” como eles dizem, as crianças pequenas, que ainda não vão à escola estavam correndo em volta do coreto. Tudo estava em paz.
Naquela manhã, o sol parecia chegar mais perto de nós, as árvores são tão grandes aqui. Aquela visão alegraria qualquer um, até o coração mais triste.
No final do ano, encheram a minha praça de luzes, enfeitaram o coreto e assim, sem os compromissos escolares, nós, iracemapolenses, fomos ver os enfeites de Natal.
Logo, a minha pequena cidade faz aniversário, então todos nós, iremos à praça, vamos assistir a um mês de comemoração, shows. Vamos num domingo de manhã, assistir as crianças desfilar com seus uniformes de escola balançando as bandeiras do Brasil, do nosso Estado e é claro, da nossa pequena “ Cidade Lábios de Mel”.
Quando chega a primavera, vá à nossa praça, mas vá pela avenida. Lá os ipês estão floridos e traçam um caminho amarelo. Quando vem o outono, as flores caem transformando a visão em foto registrada pela mente, visão que não se esquece.


Enfim, meus amigos isso é apenas um pouquinho, da minha cidade sem grandes prédios, na verdade aqui só há um, sem semáforos e sem grandes points para o final de semana. Mas, é a minha pequena, onde eu acordo todas as manhãs e me deito as noites, onde eu descobri o que é poesia, não a poesia dos livros e sim, aquela que surge quando você respira fundo ao abrir a janela e sente. Depois você abre os olhos e percebe que a vida aqui, não passa de um presente.








(praça central de Iracemápolis)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

ESTRANHO


Um dia ele passou perto de casa, eu vi sua sombra e senti a presença, mas, não o vi de fato.
Já faz tempo que venho procurando, parece que quando eu o encontrar, me encontro também, mas, há os que dizem que quando eu encontrá-lo nesse dia então me perco, ou morro.
Me falaram que ele anestesia, rouba o pensamento e nos faz agir como idiotas irracionais, dizem que ele tira tudo de precioso, o reflexo, o chão, o jeito.
Há tempos eu pensei ter encontrado, eu toquei, falei. Mas, sumiu! Disseram que ele não some, então dormiu? Dormir, ele dorme?
Quantas vezes eu já ouvi seu nome, mas quem o batizou assim? Um dia um poeta perguntou : Quem o inventou?.A resposta não veio e se veio eu não soube.
Procurei com desespero, gritei o nome, subi no telhado e tentei ver alguma coisa que se pareça ao menos, achei? Não, não era.
Então chorei, gritei, escureci como a noite mais fria que apaga as estrelas. Tentei ser o que não fui.. Mas, tudo bem, um dia talvez.
Eu receio, tremo, mas procuro. Disseram que esse estranho leva a solidão pra longe, que ele tira essa coisa que sufoca e que diz que se está sozinho.
Alguém já viu, já viveu e diz que ele é confuso, que não tem forma e nem definição.
Dizem.
Até quando alguém pode viver do que dizem? Recolher migalhas, ficar com as histórias de quem viveu?
Eu tenho medo, é tão grande que ensurdece, cubro a cabeça e não quero ver, mas, sua falta me dói tanto...
Pois que venha, que roube e que leve, me leve pra qualquer lugar que não seja esse e me faça qualquer pessoa que não seja eu.
Ouvi, que só ele pode me tirar daqui, então eu espero, peço por algo que desconheço..que nem mesmo sei o nome, ja, que esse nome não me importa, os nomes não importam, o que eu quero é que ele seja e que me permita ser também.

terça-feira, 14 de abril de 2009

PALAVRA CRUA

Que ela venha sem muito interesse de mudança, que ela faça aquilo que espero, sem muito enfeite ou quinquilharias;
Que ela me abra espaço na garganta e que seja livre;
Que ela enfim, me deixe em paz;
Que depois dela venham outras, muitas outras como. Porque assim, sem ela eu sou mais eu e sou mais ela;
Que ela expresse e que seja;
Que ela afogue quem ou que for;
Que ela saiba o seu lugar, que tenha um lugar nas mentes e nas falas humanas;
Que ela não venha só, mas que traga pensamentos, que traga força e às vezes desgosto. Alegria e às vezes choro;
Que ela seja nua;
Que ela seja crua;
Que ela seja minha;
Mas que você a sinta sua.

VIVA PAGU !





Na nebulosa da infância, a sensitiva já procurava bondade e beleza. Mas a bondade e a beleza são conceitos do homem. E a menina não encontrava a verdade e a beleza por onde procurava. Talvez porque já caminhasse fora dos conceitos humanos.” ( Pagu)

Talvez o título deste texto não seja lá dos mais originais, mas, por mais que eu tente não consigo expressar Pagu, com outra frase que não essa, com outra palavra que não um viva.
Não era uma mulher a frente do seu tempo como há muito foi dito, para Patrícia Galvão o tempo nunca existiu, o que existiu foi a vida. “ Até quando a vida? Onde a vida?” uma sede de luta que não saciava, uma revolta íntima contra conceitos pré-estabelecidos . Buscava a satisfação intelectual que em pouco não lhe bastou era necessário então concretizar.
Jornalista brasileira, escritora, militante comunista, foi presa 23 vezes como inimiga número 1 da ditadura de Getúlio Vargas, ela se justificava “ Tenho muita força, onde irei empregar essa força?” “É preciso gritar, gritar até cair morta”. Mas, antes do conhecimento sobre Karl Marx e suas idéias, antes da entrada para o partido, antes de entender e lutar pela causa proletária, uma mulher que fazia tudo com paixão, que se entregava à ela e que fugia desesperadamente dos dogmas estipulados pela sociedade e nem tão pouco se encaixava aos moldes femininos.
Sexualmente precoce, com blusas transparentes, fumando na rua, falando palavrões, tomando um porre. Assim podemos visualizar Pagu, uma lenda, quase um mito. Muitos amores, muitas lutas seguidas de muita tristeza. Mãe.
Recebeu a fama de “porra louca” e de exibicionista devido aos seus modos, ou a falta deles para a sociedade da época.
Porém, no livro “Paixão Pagu a autobiografia precoce de Patrícia Galvão”, carta escrita durante sua última prisão a Geraldo Ferraz, seu parceiro amoroso e intelectual, vemos ressurgir uma Pagu além dessa idéia sensacionalista formada pela mídia, vemos nascer uma Pagu forte, que ambicionava dar um sentido a sua vida que não encontrara se não nas causas revolucionárias, na vontade de ser a voz daqueles que não a tinham e de ir bravamente contra a qualquer coisa estipulada pela burguesia ou pelos rígidos costumes de seu tempo.
O encontro com Patricia Galvão e sua literatura é chocante, arrebatadora e nos faz pensar se a mulher continua capaz de lutar pelos seus desejos em uma sociedade mascaradamente machista como a que enfrentamos hoje, e se pode transpor os limites que são colocados pela mesma sociedade de Pagu, pela igreja ou qualquer outro determinador de comportamento ou obtentor poder. É preciso lutar pela sua intelectualidade em um país onde loiras, negras ou morenas rebolam até o chão em trajes mínimos por um close global. É difícil ir contra contra os padrões de aparência estipulados pelas revistas de moda, pelas propagandas de cosméticos e programas que exploram a mulher como produto.
Mas, o que Pagu diria sobre nossos contemporâneos padrões? Sobre nossas contemporâneas mulheres? Talvez nada dissesse talvez atribuísse o problema para a educação ou a falta dela, a formação familiar ou o capitalismo exacerbado em que vivemos. Não sei..não sei..
Quereria eu ser Pagu ou ser como, quereria eu gritar até cair morta, lutar e mesmo presa não calar os meus conceitos..mas como? Não sei ainda..não sei.
Mas o que eu tenho Pagu, eu te dou, e são essas palavras simples e cruas, essa homenagem pequena e essa frase : VIVA PAGU!


E para aqueles que desejam mais dessa mulher revolucionária e liberada vai abaixo o link do site:
http://www.pagu.com.br/index2.asp
Vai também o vídeo da música “ Pagu” composta por Rita Lee e Zélia Duncan em homenagem a ela. Vale muito a pena ver.