Algumas histórias se confundem, pessoas se parecem e o tempo não passa em meio a tanto tédio, era o que ela pensava no escuro enquanto tentava dormir, levantou, abriu a janela e deixou que a luz ainda que fraca entrasse pelo vão.
“A vida deveria ser mais original” disse num tom baixo, mas suficiente pra ela se assustasse com o som da própria voz, ela nunca gostou de escuro, muito menos quando está sozinha. Medrosa é o que ela era, uma menina medrosa e insatisfeita, sempre soube que era assim, nunca teve coragem alguma. Não gostava do escuro, da solidão. Não gostava de gente e nem de fazer nada novo, só pensava. Não tinha medo de pensar, mas freqüentemente seus pensamentos a assustavam também.
Cerrou os olhos, tentou espantar um sombrio pensamento, levantou-se de novo e fechou a janela totalmente, não podia dormir com o barulho da chuva, mas a chuva era uma desculpa, o que a incomodava mesmo era perceber que passaram minutos, talvez horas e ela continuava só. Deitou numa posição diferente, passou a pensar em coisas que quase todos pensam, sua família, seus amigos, um amor, um sonho, o passado e o futuro. A maioria a atormenta, enquanto outros tranquilizam.
Uma menina escondida. É o que de fato ela era. Esperando pelo sol.
Esperou toda uma noite e ainda estava de olhos abertos quando os primeiros raios de luz invadiram o dia. Pensou que ela poderia, um dia quem sabe, despontar como aquela luz que, ao passar pela noite mais sombria, despontaria, brilharia e quem sabe poderia ser livre.