domingo, 27 de dezembro de 2009

SINCERICIDA

Sincericídio

Por Ferréz

“Há muito tempo a humanidade deixou a sinceridade de lado. O que temos é opiniões certas guiados por erradas, erradas guiadas por cegas.
Uma pessoa que é sincera vive sozinha ou com um ciclo de amizade restrito. É tida por todas como inconveniente, insatisfeita, crítica, amarga, pensativa demais.
Numa sociedade que vive num mundo fictício (...) ninguém quer ser posto de frente com a realidade.
A pessoa sincera não agüenta conviver com a família muito tempo, não agüenta piadas que na verdade querem dizer outra coisa, não gosta de jogos com palavras, não agüenta cinismo, não tolera mentira, e geralmente não suporta egos inflamados. (...)
A manipulação é tão grande, que, quem se expressa sobre isso, começa a ser chamado de maluco, contestador e mais uma dezena de nomes.”


Este texto do escritor Ferréz foi publicado na Revista Caros Amigos de dezembro/09

E foi lendo o texto acima que fiz uma descoberta importante sobre mim, descobri que não chata ou mal humorada, eu sou sincera. Característica cada vez mais rara.
É mais fácil encontrar pérolas em conchas que pessoas sinceras. E que atire a primeira pedra aquele que nunca se sentiu usado para determinado crescimento ou suprir a necessidade de alguém, e depois deixado de lado como uma meia furada.
Essas pessoas estão por toda parte procurando qual será o novo degrau a ser pisado, o novo alvo conquistado para que elas possam crescer e brilhar, brilhar.

Machado de Assis escreveu o texto “Um Apólogo” que recomendo muito. Há todo tempo estamos sendo agulhas para linhas ordinárias ou escadaria para gente com talento apenas para falsificar emoções e ideais.
Talvez a única forma de se defender disso seja o afastamento, ou continuar suprindo as necessidades dos parasitas ao seu redor, dessa maneira, nós sinceros, evitamos a solidão.

Eu já me senti só muitas vezes, só por não apoiar atitudes que considerava erradas, me retirei de ambientes em que o sistema que imperava ia contra minha consciência de fazer o bem, deixei de lado amigos de infância por não querer seguir junto um caminho de ostentação, falsificação e mentira. E declaro que, continuarei assim, enquanto acreditar que me convém.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

HOMENAGEM ÀS MOSCAS

Eu observo atenta como quem finge que nada vê. Mas eu sei que estão lá e foram apenas pra mostrar sua sandice, a loucura dos cérebros lavados e dos passos contabilizados.

Eles cospem toda vez que passamos. Nos olham como se fossemos porcos selvagens a procura de comida, como se fossemos porcos canibais.
Eles dizem que fomos possuídos por espíritos maus, que não sabemos e nem temos o que dizer.

Mas acontece que ainda assim, eles não sabem se manter longe. Nos rodeiam como moscas ao lixo e olham todo tempo como cães com fome. Talvez eles não passem de moscas. Não passem de cães famintos de vida.

Não têm medo de ser contaminados com o que dizem não prestar? Mas vou confessar que eu tenho, e muito.


“Muito além do jardim, há um mundo muito grande para mim(...)
Muito além do convés, há um mar e um céu pra nós dois.”

( Muito além / Ira)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

NÃO HOJE

Às vezes penso que preciso de terapia ou ser internada mesmo. Tem dias que sinto um aperto tão grande no peito, uma agonia em estar viva que parece sufocar.

Uma agonia que como no poema “nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porque”.
Esses dias eu chorei só de ver o rosto de uma menina. Era uma menina tão linda, com um rosto tão rosa que fiquei com pena dela por ter que estar viva como eu. Tinha cachinhos negros na cabeça e eles chacoalhavam ao som do mundo.

Me lembro muito bem de quando menina, rolando na cama e chorando muito. Meu irmão com uns 13 anos, sentado no pé da cama, me perguntava o que eu tinha, e eu não soube dizer. Disse que queria minha mãe, mas era mentira.
Eu chorava porque não queria morrer, mas não queria viver. Chorei porque as alternativas eram poucas e pensei ser tão injusto.

Talvez seja o período natalino que trazendo lembranças, vem mexendo com meu emocional. Talvez seja a arte de questionar que cresceu comigo como uma amiga peralta.

Talvez seja o som do choro que não me deixa em paz, o choro que segue ao redor do mundo, daqueles que não têm motivos pra rir. Então, penso eu, não rirei também, não hoje.


Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei.
Não sei se fico ou passo.

Sei que canto.
E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles