terça-feira, 10 de maio de 2011

Minha Cidade nos Olhos de um Velho

Fiz essa crônica em homenagem ao aniversário de minha cidade para o Diário do Engenho. Conheça: http://www.diariodoengenho.com.br/
Sentado num ponto de ônibus,  estava o velho de cabeça baixa e olhos fechados. Vestia roupa social, do tipo ainda que usava quando jovem, tendo acrescentado a ela um jovial boné azul - para proteger a calva do sol que ardia.
O velho esperava, mas não um ônibus ou taxi. Esperava alguém – um qualquer que pudesse ouvi-lo. E, quando me aproximei, foi logo dizendo:
- Moça, sabia que antes tudo isso aqui era cana?
-Não sabia não, respondi. Olhei pro nada, não sei por que motivo.
- Eu cortei cana por tudo aqui, disse o velho,  mas isso faz tempo. Foi trinta “anos fazeno a mesma.” Daqui te lá na frente, onde “nem dá pra olha.”
Olhei pro velho, pensando não sei em que. Tirei o fone do ouvido que tocava um rock qualquer. Pensei que talvez ouvi-lo por um minuto não me custaria quase nada.
Então ele me falou de seu trabalho. Lamentou estar aposentado (e, quanto isso, olhava pra longe todo o tempo – e esse movimento quase lhe fechava os olhos enrugados).
Penso eu que imagens  se formavam novamente em sua lembrança. Que ele se via jovem e forte, cercado pelos companheiros de trabalho, vestindo as roupas próprias pra o lido com a terra. Penso que ele sentia o doce da memória - e o olhar marejou os trinta anos de história que nos envolviam naquele ponto de ônibus.
Os carros passando e as crianças jogando futebol no campinho em frente ao ponto de ônibus foram ficando nublados e entorpecidos pela vida do velho. Acho que penetrei na lembrança dele, e quase que podia vê-lo, jovem e desperto, com o rosto suado e o corpo encurvado construindo também a Iracemápolis em que cresci.
Iracemápolis, em tupi a cidade dos lábios de mel. Lábios esses, adoçados com o açúcar da cana que a cerca. No doce da história, um gosto leve de sal. Desconfio, hoje, que deva ser do suor de centenas de trabalhadores que, como o velho, passaram dias e madrugadas também por entre os canaviais - se ferindo no facão, almoçando as dez da manhã, com a fome forçada pelo esforço pesado, vestindo roupas compridas para se proteger de animais e do sol.
57 anos completará a minha cidade - e tantos velhos, nesse dia 03 de maio, se sentarão para contar suas histórias de trabalho e de amor, vivenciadas não só nos canaviais mas também no coreto da praça central e no comércio da pequena “lábios de mel.”

Haja amor

De todas as coisas criadas por Deus através de suas palavras encontramos uma que Ele não disse, porém, aí está desde a criação de tudo. Eu falo de amor.
Não há nada na Bíblia sobre a criação do amor, Ele não disse “Haja amor” e então, todos se amaram.
Não há nada escrito sobre isso como não há nada escrito sobre a invenção de Deus. Como isso aconteceu? Perguntei muitas vezes enquanto criança, sempre quis saber quem fez Deus. Não achei resposta alguma.

Acredito realmente que Deus é Amor, logo, eles dois sempre existiram sendo um. Portanto quem ama conhece a Deus, ainda que se diga o ateu mais fervoroso. Por outro lado, aquele que fala em Deus mas não ama, mente.

Mas que amor é esse? Todo tipo.
É preciso amar como se não houvesse amanhã não é isso? Mas como, com a nossa natureza humana cheia de ódio e rancor?
Penso eu, que se aproximando Daquele que traz só amor em sua essência.

Amor não é uma palavra, uma frase. Não é aquela coisa melodramática da novela. É sentido e impulso.
Amor é escolha.

É quando passa uma criança perto do seu carro e você sente por dentro uma coisa diferente e deseja que tudo vá bem com ela, quando uma pessoa idosa te fala um bom dia e você responde com um sorriso. É olhar para o outro e ver mais.  É sentir.
Penso que amor é isso. Deus também é.