quarta-feira, 22 de julho de 2009

Perguntas, respostas e vazio.

O sentido do amor é tão profundo. Ele não conhece raça, credo ou religião.
Não conhece os parentes e nem sabe onde termina a história. Ele só conhece o que é sentar ao lado e dar risada, bater papo com alguém cuja falta se compara ao vazio de uma folha em branco.
Agora sei porque Deus é Amor, porque Ele só habita no que é simples e sincero, sem exigências demasiadas ou sofrimento antecipado.
Porque Ele tem o peso do perdão e o cheiro de coisa nova.
Porque Ele se renova todos os dias e se deixa ser, sem formatos que o tentem prender.

O que fazer de todas as coisas do mundo se ao olhar ao lado, aquela pessoa não estiver lá?
Para que olhar um sol que só seus olhos podem ver e o lugar vazio grita.
Porque colocar alguém para ocupar o vazio, não sendo dele o lugar? Sim, nós somos insubstituíveis em matéria de amor, porque ninguém irá cobrir a falta de outro e o lugar permanecerá vazio.
Como se houvesse um código específico, uma senha, e a entrada de estranhos é proibida e a condição é inegociável.

Porque afastar de mim alguém usando o nome de Deus, de uma família ou de uma igreja? Porque achar que esta fazendo a coisa certa ao dispensar alguém em nome do certo, para se poupar do trabalho da luta?
O nome do amor também é luta, o outro nome é também abandono. Não se deixa algo precioso entrar, sem abandonar o que é supérfluo e humano.
Não existe espaço pra o comodismo e o amor na mesma sala.
Não existe sala para o perdão e o conforto.
( As respostas que quero não encontro,
as perguntas me escapam como um sopro)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

REPRESENTAÇÕES

No porta retrato meu rosto sorri
Naquela foto a minha boca se abriu
Representações de dias que foram melhores
Os olhos já lacrimejam com tanta freqüência que estranho
a secura destes quando a percebo.

Os cabelos eu não lavei, não preciso mais que me sentar aqui e me deixar levar.
Os sonhos, alguns abandonei, outros construí e luto por sentido
Por vida e ideologia
Eu luto por mim!

A minha aparência recebe a interferência da minha alma
E está tudo tão pesado
E eu chamo por alguém que passa do lado de fora
Eu grito um nome que está acima de todos os outros e peço
Que me redima
Me lave

Que cuide dos meus cabelos ensebados e trate as feridas que já cheiram mal.
Eu luto por vida
Por nexo
Eu chamo
E parece que alguém está me ouvindo

Parece que alguém se aproxima.

domingo, 12 de julho de 2009

LIBERTE

“A herança genética de sua família, seu DNA específico, seu metabolismo, as questões quânticas que acontecem num nível subatômico... Existem as doenças de sua alma que o inibem e amarram, as influências sociais externas, os hábitos que criaram elos e caminhos sinápticos no seu cérebro. E há os anúncios, as propagandas e os paradigmas. Diante dessa confluência de inibidores multifacetados- ela suspirou-, o que é de fato a liberdade?”

...William P. Young...


Quantas musicas ouvimos falando dela? Quantos poetas acordam no meio da noite para escrever sobre? Quantas pessoas a procuram como um animal esfomeado procura por comida? Mas o que de fato ela é?
Eu estava no colegial quando escrevi uma frase que uso constantemente: “ Uma pessoa é livre enquanto sua mente for livre”. E acredito nela como acredito em mim.

Não adianta viver só ou acompanhado num pasto ou numa fazenda aberta se você deixar que aprisionem seus pensamentos, se permitir que te digam o que é bom ou ruim pra você. Se você deixar que o passado o torture trazendo os mesmo sentimentos de sempre.

De nada vale sair por aí pra curtir com um pessoal que você gosta se no final das contas, quando volta e se senta na cama, se arrepende da maioria das coisas que fez. Não adianta se for pra acordar chorando e pedir desculpa no outro dia pelas coisas impensadas que disse, por acreditar ser livre para dizer o que quiser.

Se for pra achar que você não pode ter beleza se não tiver o corpo, o cabelo, os olhos e o sorriso da revista, se for pra morrer de fome e gastar todo seu salário naquela roupa que te pediram pra usar, então sinto dizer você não é livre.

A liberdade só existe quando nos comunicamos conosco e percebemos que nosso relacionamento intrapessoal está em ordem. Ela só vale quando nossos erros são nossos, e não quando os cometemos a mando de outros ou para agrado de. Quando os acertos também cabem na nossa maneira de ver e não porque algum “Senhor” mandou.

Indo mais fundo, ela só é real quando você responde por você com a cara limpa e consciente de quem luta pelo que acredita, mas antes, respeita aqueles que o cercam.
A frase é velha, mas cabe: A sua termina quando começa o do outro.

Um cara pode estar numa cela há anos, apertado, e ele pode sim ser livre. Ele pode escolher não precisar pedir desculpa o tempo todo e nem ter remorso porque ofendeu alguém, ele pode optar por sonhar tranqüilo com um dia que as coisas mudem, ele pode optar por ser grato ao invés de reclamar sempre.
Ele pode escolher ser um vento suave entre tantos, a ser um peso a ser suportado.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

CADENTE

Ela passou como um raio cortando o céu, passou vagarosamente e brilhantemente acima das nossas cabeças. Há quanto tempo eu não via uma estrela cadente? Não sei. Acho até que nunca tinha visto uma, não com tanta calma assim.
Enquanto eu lia “ Quando Nietzche chorou”, e minha sobrinha ao lado, brincava com um brinquedo que ganhou há poucos meses, fui tomada por uma estranha sensação de riqueza, uma sensação de plenitude que nunca tinha conhecido. Eu valorizo o conhecimento das sensações muito mais que qualquer outro conhecimento.

E dentre todas as coisas que pensei, uma delas foi :”O que eu preciso mais?”. Eu tenho um livro, eu tenho uma sobrinha cantarolante em plena saúde do meu lado e tenho um céu quase amarelo acima da minha cabeça aguardando a despedida do sol. Tenho um pai entretido com os passarinhos e uma mãe que fica o tempo todo perguntando se estou bem. Tenho amigos que não me deixam em paz, digo no bom sentido... porque me lembram que por mais que me sinta só, eu não estou.

Acho horrível ter que usar o verbo Ter nesse tipo de declaração, mas a nossa língua portuguesa é traidora as vezes, nos fazendo ter, ter e ter ao invés de sentir apenas. Como se você pudesse aprisionar a amizade ou o amor de alguém num verbo mal explicado.

E então Ela passou, minha sobrinha de quatro anos, pulou se perguntando que era aquilo, os olhos curiosos se agitavam pra mim, então eu disse sobre a estrela e sobre o que as pessoas dizem a respeito de fazer pedidos quando uma delas passa.
Então a menina fechou os olhos e pensou e pensou no seu pedido, e então ela gritou:
- Eu quero um tênis que brilha, dona estrela!

Eu quis rir, mas depois quis chorar. Em lembrar de um tempo em que tudo que eu queria era um tênis que brilhava, um laço rosa pra por no cabelo ou uma roupinha nova pra minha boneca. Lembrei que hoje as coisas são tão mais difíceis, muito em partes, por culpa minha. Eu ando dificultando as coisas pra mim.
Então lembrei que não preciso de mais nada, não preciso exigir tanto de mim.

Quando a traça corroer tudo, quando nada tiver sentido e sinto que cada vez mais esse dia se aproxima e o sentido se afasta, eu ainda terei um céu quase amarelo, ou quasse negro ou azul, a voz infantil cantarolando algo sobre o sabiá, ainda terei a minha estante de livros e alguém me lembrando que não estou só.

"...E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais..."
(Vinícius de Moraes)