domingo, 3 de maio de 2009

PEQUENA CONFISSÃO FEMINISTA


Eu sempre olhei pra muitas meninas da minha idade e as achava sonhadoras demais, piegas demais.
Mas, hoje pensando em tudo que vi, vivi. Entendo, amargamente que talvez a mais piegas e a mais sonhadora seja eu.

Sempre me incomodei com o tipo de mulher que se contenta com um anel e que pensa que esse lá significa alguma coisa. Sempre quis arrancar os cabelos daquelas que se sentam e esperam seus preciosos maridos chegar a casa cheios de novidades rotineiras, enquanto nada têm para dizer a não ser sobre a louça, a casa, a roupa.

Nunca compreendi a necessidade de se ter ao lado alguém, pra mim, a necessidade é sempre vilã eu sempre acreditei na opção e por opção caminho.
Não entendo o véu e a grinalda, eu não entendo aquela barriga enorme, independente de quantos meses seja, sentada numa poltrona olhando a vida passar. Esperando em algum momento da vida receber gratidão pelo peso carregado por tanto tempo.
Não entendo as flores, o arroz que é jogado e o dia seguinte, não entendo.

Mas, outro dia percebi com maravilhosa angústia que elas também não me entendem. Não entendem meus livros, minhas roupas. Minhas falas elas não entendem. Meus palavrões e minhas idéias.
Eu não sou a verdade.
Eu não sou a mulher que queria ser.

Houve um tempo em que pensei ser isso um dom, algo realmente bom que me separasse e que me permitia ser independente da sociedade, da família, da igreja.
Mas, quando chega a noite e quando ela é fria, depois do trabalho e dos estudos, tudo me parece mais complexo. Outro dia li um trecho de Adélia Prado e ela diz :

“Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.”
“Mulher é desdobrável. Eu sou.”


Mas o que acontece é que eu devolvo o livro à estante, desligo o computador e estico as cobertas sobre o rosto. E ali, eu estou sozinha e a verdade é só essa.
Desdobrável e sozinha.
Deve haver alguma forma, um equilíbrio entre a feminista que queima roupas íntimas à aquela que se ajoelha como que diante de um rei.

Enquanto isso, a única coisa que consigo escrever neste post, como resposta as muitas perguntas que me fazem diariamente, é que não preciso de um anel, se precisasse compraria um. Não preciso do sustento ou do sobrenome de um homem. Não preciso de filhos. Não preciso de alguém que me diga o que fazer, o que vestir ou como agir, alguém para medir minhas palavras e que tente me moldar como um oleiro ao barro.

Eu odeio o verbo precisar e seu significado, mas, sou obrigada a admitir que o que todos precisamos é de alguém numa noite fria, alguém que esteja ali quando o livro for guardado.
Alguém que sutilmente me faça sentir que a necessidade pode ser amiga e que não se assuste comigo e essa minha mania de nunca dar satisfação a respeito dos meus pensamentos.

Enfim, alguém com quem eu não precise me fantasiar de noiva pra entender que o amor existe e que faça essa cerimônia que é tão sonhada por tantas, parecer pequena diante do que a vida guarda às pessoas que procuram algo pra sentir além do que ostentar.
Alguém que não fira o meu orgulho e que saiba que estou ali por amor, já que conveniência, ritual ou sobrenome, bom... nada disso me interessa.

Por essa e outras coisas sou obrigada a admitir que muitas vezes, sou muito mais sonhadora do que aquelas que acreditam que o amor é um conto de fadas e que sonham com a família feliz que a parece na novela das oito.
Já que como Clarice Lispector “procuro uma verdade inventada”, talvez eu busque alguém que não existe, uma união impossível e talvez eu devesse comprar mais livros.

2 comentários:

  1. interessante...tipow..complicada e perfeitinha.. =P

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  2. Tbm procuro o equilíbrio entre a feminista que queima sutiãs e a noiva super-submissa, mas como tá difícil eu vou é comprar menos livros.Rá! Assim quem sabe eu possa me encaixar num desses extremos semi-alienados. Seria muito mais cômodo.
    É confortável pensar que a tal verdade inventada, como é inventada, fica no mundo das ilusões. A realidade é a verdade que já é verdade por si só e não se inventa.
    Acontece que isso é pouco. Há algo que incomoda, que busca por respostas inatingíveis e pede mudanças. Não, não posso comprar menos livros. Já sei!Talvez vc devesse é comprar mais livros! Rá!
    Que anormal a gente deve ser...

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