terça-feira, 26 de maio de 2009

MARIA

Havia dias em que ela se levantava trêmula e ainda capengante, parava e se encarava diante do espelho.
O olhar vazio contemplando a roupa branca, ainda a de dormir, os gestos lentos parecendo desmanchar no ar ao som do pássaro que cantava na janela, preso em uma gaiola.

Houve um tempo em que as faces foram rosadas e os cabelos quando penteados roubavam olhos por onde passavam.
Neste tempo, ela nem mesmo se encarava, a felicidade a consumia do nascer do dia à morte deste.

Mas o tempo sempre se vai e como quem nada quer deixa bem claro que já se foi, e nos deixa ralos com o compasso de seu passar e traz coisas e leva outras, ele sempre leva alguém.

Ela, melancólica, olha-se como quem se ignora.
Sente-se como quem não existe.
Sonha como se sonho não houvesse.

Com passar do tempo, Maria, a gente se acostuma
Com o pássaro na gaiola
Com o olhar vazio
Com a fome das coisas que o tempo levou.

Haverá dias, Maria, que você não se lembrará destes dias tão cínicos
De pessoas tão chulas
De palavras tão torpes
Em que você se encarará apenas e perguntará:
Quanto tempo já passou?

Enquanto isso aguente Maria,
Esqueça o sonho que já não há
Esqueça-se da forma que se sente
e das pessoas tão cheias de si.

Apenas se encare Maria, que o tempo levará.

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