quinta-feira, 11 de junho de 2009

COISAS DO AMOR

Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, você não deve entregá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife seguro, sem movimento, sem ar ele vai mudar. Ele não vai se partir, vai tornar- se indestrutível, impenetrável, irredimível.
( C.S. Lewis)


Acho que o famoso escritor de “As crônicas de Nárnia” tem razão. Sim, nós podemos guardar os nossos corações e sim podemos torná-los independentes assegurando-os num lugar confortável. Mas, não podemos obrigá-los as permanecer da mesma forma que um coração que foi entregue.
Um dia li que o amor nada tem a ver com aquilo que se recebe, com atitudes ou palavras de uma pessoa seja ela amada ou não. O amor só pode ser aquilo que se dá, aquilo que é oferecido, doando é que se sente amor, recebendo podemos sentir carinho e gratidão, mas nada que vá muito além disso.

Não sei por que estou me dedicando a essas palavras, você pode pensar que deve ser porque hoje é véspera do dia dos namorados e isso me inspirou de alguma forma, mas essa é mais uma data comercial onde empresários e publicitários ficam um poucos mais ricos. Eu sei que no dia 13 de junho as pessoas correrão às lojas pra trocar os presentes que não gostaram e sei que no dia 14 todas as palavras já serão esquecidas, e esse dia ficará apenas nos cartões que ficarão guardados.

Agora, você vai pensar que eu devo estar muito frustrada pra dizer isto. Mas é preciso ver o que está estampado em nossa frente e entender que o amor não está nos comerciais de grandes lojas, ele não está em frascos de perfume e nem em uma noite que prometia ser inesquecível. Ele se esconde nos lugares inabitados e ele ameaça aparecer quando tirarmos toda essa roupa que a publicidade nos mandou vestir, quando quebrarmos os cartões e entendermos, como disse Chaplin em "O grande ditador", que não somos máquinas, nós somos homens e necessitamos de bondade muito mais que toda essa quinquilharia.

É por isso que há por todo lado pessoas que se escondem, gente com feridas tão profundas por relacionamentos que só trouxeram algo pra se envergonhar, é porque nós permitimos que as novelas nos digam como amar, é porque assistimos a filmes e exigimos que as pessoas que nos acompanham tenham as mesmas características, coisas que nem mesmo nós sustentamos.
É porque permitimos que um Grande Irmão* nos endureça e nos torne frios já que não achamos aquilo que julgamos merecer, aquilo que os outdoors dizem que merecemos.

E então nos tornamos impenetráveis, à procura de flores e bombons, de perfumes e bolsas, de sorrisos em fotos. Nós andamos cada vez mais longe daquele amor que ficou esperando num lugar escuro e simples com a goteira fazendo barulho e uma musica muda.

Nós nos tornamos em coisas que possuem cada vez mais coisas e não sentimos nada, nem mesmo culpa, já que somos consumíveis e descartáveis agora.

*Grande irmão/ Livro 1984 de George Orwell

2 comentários:

  1. uma obra prima Cintia.
    gostei muito deste texto.

    beijo.

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  2. Depois deste post, tenho somente 3 coisas a declarar:
    1°: Você tem toda a razão.
    2°: Seu texto está ótimo.
    3°: Não sei amar e já estou 'coisificada'.

    Beijo.

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