segunda-feira, 21 de março de 2011

VERSOS

“Bem mais que o tempo que nós perdemos, ficou pra trás também , o que nos juntou. Ainda lembro que eu estava lendo, só pra saber o que você achou, dos versos que eu fiz, que ainda espero resposta...” Ele gostava especialmente dessa musica, ficava impressionado com a semelhança que ela tinha com a própria vida. Abaixou o volume do som pra não atrapalhar o próprio pensamento, “será que ela leu?”
Sim, ela leu.  Ela analisou a escrita, a tal da técnica, havia um erro lá com uma crase que faltou, ela não deixou de notar. Pensou em comentar friamente o assunto, só não entendeu que retratados naquelas palavras, estão seus gestos e seus olhos, seus dentes e seu jeito. Ela nunca percebia nada que fosse mais profundo, que houvesse um sentido escondido.

Ele passou a noite toda escrevendo, trocando letras e palavras, ajeitando parágrafos para agradá-la. Pensou que a maioria dos homens comuns mandariam flores, um perfume talvez? Mas no fundo ele sempre soube que não era comum, ele era poeta e o que de melhor oferece um poeta se não letras combinadas? E aquelas combinações lhe pareciam perfeitas para agradar uma moça como aquela.
Mas a tal da moça enganou o poético coração, de nada entendia de sentimento, gostaria muito mais de algo palpável, algo que a permitisse exibir de alguma forma. O que ela faria com palavras e combinações? A quem ostentaria pontos e virgulas?
 Ela fechou o computador, decidiu não criticar e nem comentar, pensou: “Não tenho tempo e ele não ia gostar do que eu tenho pra dizer”
Levantou-se e saiu, foi comprar algumas coisas. Olhar vitrines. Experimentar um sapato que pretendia usar. Não demorou a se esquecer do que havia lido e também daquele que o tinha escrito.

Enquanto isso, ele colocava a musica pra tocar mais uma vez, reclinou-se na poltrona e sonhou com aquela moça bonita lendo e se emocionando com seus versos, os olhos claros quase lacrimejando pela intensidade do sentimento colocado neles. Imaginou que lhe devolveria outro, talvez uma carta, talvez um simples sim. Dormiu embalado pelo cansaço produzido por uma noite de trabalho. Talvez vão ou talvez não. Versos são sempre presente e sempre há alguém que os aceite e que com eles se emocione.

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