quarta-feira, 13 de outubro de 2010

DESABAFAR É PRECISO

Sei, eu sei. Eu abandonei este blog.

Na verdade eu penso em escrever sempre, o tempo todo. Mas não tenho postado. Tenho em mim a sensação de que é tudo a mesma coisa, eu sempre reclamando de como é difícil não se adaptar ao que querem que você se adapte, sempre falando mal de algumas formas de manipulação e lutando contra mim mesma para não ser mais um, mais uma.

Ultimamente tudo me parece realmente igual. O mesmo inconformismo, a mesma revolta, o mesmo grito sem resposta.

Pra variar me apresentaram ao Chomsky. O que ele diz? Que há mais manipulação na imprensa do que sonhava nossa vã rebeldia, e que ainda que tentássemos fazer diferente, seria impossível, porque os meios desta manipulação estão intrínsecos, embutidos de forma a não nos deixar opção alguma.

Outro dia me perguntaram: Que sistema é essa no qual estamos inseridos? Pois é, eu também me pergunto. Como posso eu fazer algo além dele com tanta publicidade, futilidade, imbecilidade reinando por aí. Quem vai ouvir a minha voz, enquanto o Boticário lança uma linha nova de maquiagem ou aquela casa noturna contrata alguém de NYC. Acho que poucos ou ninguém.

Mas ainda não me ouvindo, eu continuo pensando, confabulando histórias, livros e meios de impedir que essas grades me suguem. Impedir que eu vire alguém vendendo sorrisos enquanto não faz nada pelo próximo, estou tentando, me arrastando em meio a multidão. As vezes me canso, me rendo também.

Inquietações me desarmam, me destroem.

Fui a um lugar ontem, comer eu acho. Um senhor de uns oitenta anos veio pedir pra olhar o carro em troca de uma moeda. Vi na TV a história de uma menina estuprada pelo tio e a do menino com ordem de despejo do casarão tomado à força pelos pais alegando ser classe média e ter uma vida perfeita. Vi um povo que elege humoristas e quase elege cantor de pagode para ser representado por eles. Ouvi falar dos fariseus vendendo milagres, professando uma fé oca e massificando sem piedade.

Então deixo a pergunta aos meus caros leitores: Que sistema é esse no qual estamos inseridos?

“Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho...

O que será, que será?
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos dos desvalidos
Em todos os sentidos...

Será, que será?
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido..”

...Chico Buarque...


5 comentários:

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  2. Nossa, que texto bacana Cintia! Identifiquei-me com seu desabafo. As vezes também tenho essa mesma sensação... tentar fugir do sistema e ele sempre correndo atrás de mim. Essa perseguição parece não ter fim, e se nado contra essa maré sou esculaxado pelos seus adeptos. É triste, mas prefiro voltar no tempo, pois essa modernidade é muito confusa pra mim.

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  3. Ahhhh,
    lembro das conversas que domavam nossa roda de bate-papo no intervalo da faculdade. COmo combater o sistema?

    Compartilho suas angústias,Cintia! Todas elas, também sinto ter abandonado o blog, por cansar de falar das mesmas coisas e ninguém ouvir. Estamos travando uma luta desenfreada, derrotados antecipadamente,conta o sistema. Mas, o importante da luta é sempre lutar, mesmo com a certeza da derrota.

    Eu assisti o zeitgeist, o documentário essa semana, fiquei mal. As coisas perdem total sentido. Mas assim, continuamos a luta contra ele, o sistema. Nosso exército de ansêios mudos.

    beijos.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Cintia,

    essa mesma pergunta que você fez aos seus leitores, eu pergunto a mim mesmo todos os dias. Que sistema é esse no qual estamos inseridos?

    Acredito que seja esse que permite toda desigualdade social no nosso país. Isso me lembra até a época do sistema feudal, quando servos já na nasciam sabendo que morreriam sendo servos. A vida dos pobres de hoje não foge muito dessa realidade.

    Também é esse que causa uma guerra incessante em busca do poder. É complicado ter que ver políticos controlando a vida das pessoas na palma da mão, enquanto ainda depositam rios de dinheiro em contas no exterior, empregam familiares no senado e chegam ao ponto de roubarem até merenda de crianças.

    Infelizmente é nesse sistema que a gente vive, Cintia, mas por mais que a luta seja árdua, devemos continuar remando contra a maré, quem sabe até ficar ao avesso para mostrar a verdade nua a todos aqueles que fecham os olhos para as atrocidades que acontecem por baixo do tapete vermelho da socedade.

    Ótimo texto, Cintia. Fica aqui também uma parte do meu desabafo.

    beijo.

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