
Abriu a janela que mal podia alcançar e gritou
- Venham todos, venham ver os países.
Então toda a família se aglomerou e olhou
e só o que viram foi o que o óbvio podia ver
Viram muros e telhados, casas e àrvores,
viram também o céu que trazia nuvens carregadas
Desesperadas para explodir em gotas.
Ela, no entanto, olhou e viu
Viu que por trás da cortina cinza cheia de nuvens,
haviam pessoas que habitavam países e continentes,
estados e cidades, havia gente de todo tipo e bichos também ela viu.
Viu que nada era da forma que se vê, que sempre há mais
Que o horizonte é o lugar onde se deseja intimamente estar,
tão longe e tão constante.
Viu galhos e insetos, flores e folhas
Risos e dores ela viu.
E no fundo do que era, ao ver passou a sentir
E sentia todas as dores do mundo
E pensava em todos os sonhos das gentes
Ria o riso das crianças todas que enchiam a Terra.
E a fisgada no peito apertou bem fundo e quase como um grito lhe escapou da cabeça e invadiu a boca e calou os olhos, aquela pergunta que vem quando se vê:
Pra quê eu vivo?